3.11.19
O TREM E A BÍBLIA NO PAÍS DE CARUARU
O TREM E A BÍBLIA NO PAÍS DE CARUARU
Hoje a antiga estação ferroviária de Caruaru está desativada, não há mais nenhum som de trem no local, tornou-se patrimônio cultural da cidade e se transformou em Polo Cultural Estação Ferroviária.
Você sabe qual é o primeiro nome da estação ferroviária de Caruaru? ESTRADA DE FERRO CENTRAL DE PERNAMBUCO, este era o nome oficial denominado pelos investidores ingleses da empresa GREAT WESTERN. O nome CENTRAL foi homenageado pelo time alvinegro de Caruaru: CENTRAL SPORT CLUB (1919). -- Na Inglaterra o clube alvinegro mais famoso é o Newcastle United Football Club, com seu uniforme titular preto e branco.
A Inglaterra tem uma longa tradição não só no futebol, mas na industrialização mundial e em suas antigas agências missionárias cristãs evangélicas.
-- Alguns missionários ingleses no século XIX marcaram a história das missões: William Carey, Hudson Taylor, Adoniram Judson, David Livingstone. -- Seus missionários se espalharam pelo mundo como ferrovias e estradas. Estes desbravadores irmãos em Cristo eram verdadeiros “arranca tocos”. A música do grupo Sal da Terra faz jus ao que todo missionário deve ser: “De sandália ou de alpercata / Comendo poeira e chão / De jumento ou bicicleta / Ou em cima de um caminhão / Os pés de quem prega o evangelho quão formosos são / Não importa o transporte / Não importa a condução / O importante é chegar junto / E fazer a pregação / Os pés de quem prega o evangelho quão formosos são”.
A estação ferroviária é um memorial presente da vocação mercantil de Caruaru e suas portas abertas para acolher pessoas de outras regiões. Os trens que passaram por Caruaru traziam pessoas de todos os lugares. Quantas Bíblias e evangelistas anônimos os trens transportaram? Deus deu ao homem o domínio sobre o mundo e as tecnologias são como ferramentas deste domínio. De modo especial os séculos XIX e XX da industrialização trouxeram uma ampla transformação em grande parte do mundo.
Segundo Max Weber, em “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1904), obra que aborda a influência do calvinismo, especialmente inglês, no capitalismo moderno, os grandes homens de negócios da Revolução Industrial, os mais bem sucedidos eram protestantes europeus, e ingleses em especial. Em 1835 os ingleses criaram uma poderosa indústria ferroviária, a Great Western Railway Company, e em 1872, já havia plano de expansão internacional da companhia, e o Brasil rapidamente se transformou em potencial cliente por seu imenso território, e uma filial inglesa fora destinada a construir ferrovias no Brasil. Assim nasceu a Great Western of Brazil Railway Company Limited, que logo ficou conhecida no país como Greitueste.
A bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco, Lúcia Gaspar, relata sobre a Great Western que, a primeira concessão autorizada para Pernambuco (pelo Brasil Império) foi em 1873, para construir uma ferrovia que ligaria a capital Recife até Limoeiro. Em 1881 iniciou seu funcionamento, com a conclusão do primeiro trecho (Recife–Paudalho).
Ainda segundo pesquisa (GASPAR), em 1896 a Greitueste construiu a ferrovia Recife–Caruaru e no início do século XX, arrendou as demais ferrovias do estado. Em 1945 a Great Western possuía mais de 1.600 km de ferrovias, alcançando outros estados do Nordeste. Em 1951 encerrou suas atividades no Brasil, sendo sucedida pela Rede Ferroviária do Nordeste, antecessora da Rede Ferroviária Federal S. A. (RFFSA). -- Entre 1882 e 1883, a estrada de ferro de Limoeiro transportou 2.061 passageiros de 1ª classe e 33.377 de segunda. Em 1884 e 1885, com a introdução dos vagões de 3ª classe, foram transportados mais de 60.000 pessoas. – Continua GASPAR:
Além de passageiros, a Great Western transportava também os principais produtos da região, como açúcar, álcool, madeira, algodão, feijão. Depois da estrada Recife-Limoeiro, a empresa construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco (1885-1896) ligando Recife a Caruaru. A ferrovia iniciava no bairro de Afogados, no Recife, próximo à Casa de Detenção (atual Casa da Cultura), passando por Vitória de Santo Antão, Gravatá, Bezerros, terminando em Caruaru. Nessa época, Vitória possuía mais de 70 engenhos; Bezerros, mais de 20 fábricas de rapadura, e Caruaru exportava para o Recife uma grande quantidade de solas, couros, algodão, queijo, feijão, além de realizar uma das maiores feiras de gado da região.
A empresa chegou a possuir uma rede ferroviária de mais de 1.600 quilômetros distribuídos entre os Estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. A história da Great Western está tão ligada à da produção no Nordeste brasileiro, que ninguém pode escrever sobre a história econômica da região sem consultar seus relatórios e arquivos. (GASPAR).
Caruaru se tornou economicamente CENTRAL em Pernambuco e hoje sua população caminha para 400 mil habitantes. Fundada em 1857, inicialmente uma fazenda, hoje é um importante polo médico-hospitalar, acadêmico, cultural e turístico. Sua feira é internacionalmente reconhecida como patrimônio imaterial e histórico. Seu artesanato é mundialmente conhecido através do pioneirismo artístico do Mestre Vitalino. E a UNESCO reconhece Caruaru como o maior centro de arte figurativa das Américas.
A antiga localização da feira era muito próxima da estação ferroviária e isto certamente contribuiu para a grande circulação de produtos e de pessoas de toda Mesorregião do Agreste Pernambucano. A Palavra de Deus está espalhada por toda terra. O Evangelho de Jesus Cristo chegou aos confins da mundo em obediência a ordem do SENHOR:
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. -- Mateus 28:19,20
EVANGELHO POR MAR E TERRA
Muito antes das estradas de ferro no Brasil, o protestantismo plantou (vindo por via marítima) as primeiras sementes da Reforma Protestante, através dos franceses huguenotes (1555-1557) no Rio de Janeiro e posteriormente com os holandeses (1630-1652) em Pernambuco, porém os séculos XIX e XX vieram como uma locomotiva e os trabalhos dos missionários protestantes congregacionais e presbiterianos foram extraordinários, desenvolveram sociedades bíblicas e missionárias bem elaboradas e eficazes. E adentraram ao interior do Nordeste.
Um breve resumo: Em 1885 chega ao Rio de Janeiro o missionário congregacional escocês, Robert Reid Kalley. E em 1873 é fundada a Primeira Igreja Congregacional de Recife e do Nordeste, denominada: Pernambucana. Em 1879, o Rev. Kalley recebeu apoio da Inglaterra com a chegada do Rev. Fanstone. Em 1898, o missionário congregacional inglês Rev. Charles Kingston visitou Caruaru e esta semente originou a Primeira Igreja Congregacional em Caruaru. Em 1911 havia aproximadamente 25 pessoas evangélicas em Caruaru. – Atualmente, dados do IBGE de 2010, em Caruaru a religião Católica Apostólica Romana corresponde a 66,4% da população residente, ou seja, 209.003 pessoas, em 2010. As religiões evangélicas correspondem a 21.7% (68.336 pessoas) da população residente. Certamente estes números já estão diferentes em 2019, o crescimento de igrejas evangélicas é exponencial, porém tudo começou como um pequeno grão de mostarda.
No começo do século XX missionários e missionárias, ingleses, escoceses e pernambucanos realizaram trabalhos de colportagem e pregação pelo Agreste Pernambucano. Colportagem é a distribuição de publicações, livros e panfletos religiosos por pessoas chamadas "colportores", eles foram muito importantes para interiorizar o protestantismo em Pernambuco. Estes primeiros missionários do século XIX e XX foram precursores, repassavam Bíblias e literatura evangélica por toda região, fundavam jornais, escolas, pontos de pregações e igrejas. Sofriam perseguições e discriminações, mas perseveram na missão. Estes primeiros missionários não eram bem-vindos nas regiões nordestinas, eram chamados de "nova seita" pela grande população católica. Os templos evangélicos e missionários eram constantemente apedrejados, livros e bíblias regularmente queimados. Há um registro interessante dessa época sobre perseguição: “é costume em Caruaru dar-se surras nos evangélicos” e a polícia não tomava nenhuma providência. A hegemonia era católica romana, mas o trabalho devia avançar. Não podemos esquecer a memória daqueles que se gastaram na obra e alguns perderam suas vidas por amor ao SENHOR JESUS CRISTO.
Em 1928, W. B. Forsyth, missionário congregacional inglês veio a Caruaru e sua missão envolveu Caruaru, Porteiras e Poço Fundo, região de Santa Cruz do Capibaribe. A Igreja Congregacional em Caruaru, desde então contribuiu muito com a expansão de igrejas independentes por toda cidade e região. Posteriormente chegaram muitas outras denominações seguindo os passos dos pioneiros.
Em 1859, é o ano da chegada do primeiro missionário presbiteriano no Brasil, Rev. Simonton, e em 1862 sua missão organizou a Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio de Janeiro. Em 1873, desembarcou um missionário presbiteriano em Pernambuco, o Rev, John Rockwell Smith. O Rev. Smith visitou todas as principais cidades do Nordeste brasileiro. Organizou além da Igreja de Recife (1878), a de João Pessoa-PB em 1884 e a de Maceió em 1887. A partir de 1874 acontece a primeira expansão missionária presbiteriana de Pernambuco em direção a Maceió-Al e Pilar-Al. Em 1878 – Ano marcante para o presbiterianismo nordestino, o Rev. Smith organizou a Primeira Igreja Presbiteriana do Recife, ministrada pelo Rev. Blackford. Respectivamente a igreja presbiteriana se espalhou por Garanhuns, Goiana, Canhotinho, Palmares, Areias e Caruaru. O Agreste desde muito tempo vem sendo trabalhado por inúmeras denominações, mas no Sertão Nordestino, segundo dados da JOCUM, hoje, há 15 milhões de habitantes da zona rural, e desta população apenas 0,1% é evangelizada. É como voltar no tempo, o contexto atual no Sertão.
REFORMA HOJE
Em, 31 de outubro de 2019, comemorou-se 502 anos da Reforma Protestante. A data foi um excelente momento para relembrar a razão da existência do protestantismo, qual nossa herança, qual a importância de nossa história.
Atualmente, em Caruaru acontece um congresso interdenominacional chamado “Reforma Hoje”, o qual reúne irmãos e irmãs de muitas igrejas evangélicas. O congresso proporciona gratuitamente às igrejas da região e população em geral um encontro com programação voltada para pregação do Evangelho com pregadores de todo país, oferece literatura teológica através de livrarias com a presença das melhores editoras cristãs do Brasil e espaço para apresentações de seminários teológicos. Por quatro anos o congresso foi organizado no Espaço Cultural Tancredo Neves, o local da antiga Fábrica Caroá, fundada em 1935, uma importante companhia histórica para a economia de Caruaru. E em 2019, na 5ª edição do Congresso Reforma Hoje, o espaço escolhido para 2000 pessoas foi a antiga estação ferroviária, no coração do Agreste.
Por sua relevância histórica o 5º Congresso teve como tema central: Um retorno ao verdadeiro Evangelho, duração de três dias com a ministração da pregação por dois pastores, o Rev. Heber Campos Jr e Rev. Ronaldo Lidório. Este reconhecido como um dos principais missionários ligado à Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT) e à WEC Internacional. Atuou por nove anos no noroeste africano, entre o povo konkomba-bimonkpeln, como plantador de igrejas e tradutor do Novo Testamento. E atualmente trabalha entre povos indígenas no Brasil.
Receber o missionário Ronaldo Lidório para ministrar a Palavra de Deus na antiga estação ferroviária de Caruaru, onde muitas igrejas realizaram uma demonstração pública de comunhão, foi um marco histórico para que a Igreja Local fortaleça sua vocação e avance. Em 1911 Caruaru tinha duas dúzias de cristãos evangélicos, hoje provavelmente caminhando para 70 mil, segundo IBGE 2010. O púlpito do 5º Congresso juntamente com toda estrutura do evento ficaram instalados sobre os antigos trilhos de ferro da antiga estação. Pisamos no mesmo chão batido dos pioneiros missionários, muitos heróis anônimos da fé. Irmãos do passado que muito provavelmente transportaram Bíblia e literatura cristãs nos vagões dos trens que trouxeram ou levaram esperança em Cristo Jesus para mais localidades; para mais regiões.
A Bíblia está aberta e sendo pregada através de diversos canais, atualmente temos excelente literatura, seminários e congressos. Podemos dizer que estamos equipados para evangelizar a região e o mundo. E também podemos dizer que até aqui nos ajudou o SENHOR. Que o SENHOR abençoe Caruaru para que Deus transforme os homens e mulheres de barro em missionários atuantes do Deus vivo!
Os primeiros missionários vieram da América do Norte e da Europa para cá. Hoje a Igreja Local tem missionários nativos por toda região, e pode iniciar um movimento de plantação de igrejas cada vez mais atuante e consciente de sua missão. Como diz a continuação da música do Grupo Sal da Terra:
Ao seu povo Deus dá ordem e também a direção / Ide pregai o evangelho essa é a nossa missão / Os pés de quem prega o evangelho quão formosos são / Lá em atos dos apóstolos Deus traz mesmo orientação / Sede minhas testemunhas em toda e qualquer região / Os pés de quem prega o evangelho quão formosos são / Norte, sul, leste a oeste Brasil é grande nação / Muitas vidas perecendo que você tem feito irmão? / Os pés de quem prega o evangelho quão formosos são / Sai da tua parentela faz tua parte de cristão / Pregar o evangelho ao mundo Deus não faz acepção / Os pés de quem prega o evangelho quão formosos são / Eu vou, eu vou!
Texto: Raniere Menezes – 1ªIPB de Caruaru-PE
(Texto sem revisão em 03/11/2019)
Referências:
PINTO, Estevão. História de uma estrada-de-ferro do Nordeste. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 310 p. (Documentos brasileiros, 61).
SOUZA, Alcindo de. Antologia ferroviária do Nordeste. Recife: Bagaço, 1988. 100 p.
Fonte: GASPAR, Lúcia. Great Western. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
BLOG PERNAMBUCO CALVINISTA -- http://pernambucocalvinista.blogspot.com/2010/01/destaques-do-livro-historico-seitas.html
10.7.17
Os primeiros protestantes brasileiros - Os índios
Os primeiros protestantes brasileiros
Em trabalho inédito, historiadora revela que a primeira igreja evangélica do Brasil foi criada por índios da tribo potiguara convertidos por holandeses em Pernambuco. Perseguidos pelos portugueses, eles se refugiaram no Ceará
Muito se fala do legado das invasões holandesas no Brasil, que duraram quase três décadas durante o século XVII. A cidade do Recife, por exemplo, quartel-general dos invasores em Pernambuco, guarda até hoje as marcas do urbanismo batavo, com ruas e avenidas de traçado reto e pouco usual para a época. Em museus do Brasil e do mundo, sobrevive a arte de gênios holandeses da pintura e da botânica como Albert Eckhout e Frans Post, que documentaram o Brasil com cores e formas incomuns em outros registros. A partir de agora, um lado mais obscuro, mas não menos importante, da herança holandesa deve ganhar renovada atenção: o religioso. No livro “A Primeira Igreja Protestante do Brasil” (Ed. Mackenzie, 2013), lançado na semana passada, a historiadora e professora cearense Jaquelini de Souza conta a história da “Igreja Reformada Potiguara”, criada por índios com apoio holandês e mantida em funcionamento pelos nativos mesmo depois da expulsão desses colonizadores pelos portugueses.
Como a história de qualquer igreja em seus primórdios, a da Igreja Potiguara começa confusa, com a ida para a Holanda, em 1625, daqueles que viriam a ser duas de suas maiores lideranças indígenas. Pedro Poty e Antônio Paraupaba, índios potiguaras, embarcaram para os Países Baixos em junho daquele ano sem saber bem o que fariam por lá. Ao aportar, foram apresentados ao que o país tinha de melhor, receberam educação formal e religiosa de ponta e logo se converteram ao protestantismo. Mas, diferentemente do que costumava acontecer com índios que iam à Europa com os ingleses e os franceses, cinco anos depois Paraupaba e Poty voltaram ao Brasil, em data que coincide com o início da segunda invasão holandesa (leia quadro) no País. Por aqui, assumiram funções administrativas, militares e espirituais. Aos poucos, deram corpo, com outros índios igualmente educados na fé, a um programa intenso de catequese e de formação de professores reformados indígenas. Incipiente, a igreja em formação se reunia nas aldeias e fazia batismos, casamentos, profissões de fé e ceias do senhor. “Já era a Igreja Potiguara porque, teologicamente, havendo dois ou três reunidos em nome de Deus, independentemente do lugar, está ali uma igreja”, diz Jaquelini.
Pouco na nascente igreja a fazia diferir de outras experiências religiosas europeias nas Américas. Havia o componente protestante, que aproximava o índio do colonizador de forma inédita por colocar a educação do nativo como pré-requisito para sua conversão, algo que os católicos pouco faziam. Mas, ainda assim, tratava-se de uma experiência religiosa mediada por uma força impossível de ignorar: a de colonizador sobre colonizado. “Por isso, argumento que foi só depois da expulsão dos holandeses que vimos aflorar a verdadeira Igreja Potiguara”, diz Jaquelini. Expulsos do Brasil em 1654, os batavos abandonaram os potiguaras convertidos e outros nativos, aliados políticos e militares contra os portugueses, à própria sorte. Mesmo assim, a maioria dos protestantes manteve sua fé. Refugiados dos portugueses na Serra da Ibiapaba, no Ceará, onde chegaram depois de caminhar 750 quilômetros do litoral pernambucano ao sertão, eles continuaram praticando a fé protestante e chegaram a converter índios tabajaras, que também estavam no refúgio. Enquanto isso, Paraupaba, já tido como um brilhante historiador e profundo conhecedor da “Bíblia”, tentava, na Holanda, apoio para os refugiados – um esforço que não rendeu frutos imediatos.
Nada, porém, tirou o peso da experiência protestante na Ibiapaba. Um relato do famoso padre Antônio Vieira, jesuíta português incumbido de relatar à Companhia de Jesus o que acontecia na região, dá o tom ao batizar o lugar de “Genebra de todos os sertões”. A cidade de Genebra está para os protestantes como o Vaticano está para os católicos. Em outro trecho, Vieira diz que os índios “estão muitos deles tão calvinistas e luteranos como se nasceram em Inglaterra ou Alemanha”. Não se sabe ao certo o que restou dos índios da Igreja Potiguara depois que o grupo se desfez, ao que tudo indica, passados seis anos de vida em comunidade na Ibiapaba. Especula-se que alguns se juntaram aos opositores dos portugueses durante as Guerras dos Bárbaros a partir de 1688. Outros teriam voltado ao catolicismo ou às religiões nativas. O que fica para história é que esses índios foram os primeiros brasileiros protestantes. E que a Igreja Reformada Potiguara foi a primeira igreja evangélica do Brasil.
Artigo de: João Loes
Isto É
Em trabalho inédito, historiadora revela que a primeira igreja evangélica do Brasil foi criada por índios da tribo potiguara convertidos por holandeses em Pernambuco. Perseguidos pelos portugueses, eles se refugiaram no Ceará
Muito se fala do legado das invasões holandesas no Brasil, que duraram quase três décadas durante o século XVII. A cidade do Recife, por exemplo, quartel-general dos invasores em Pernambuco, guarda até hoje as marcas do urbanismo batavo, com ruas e avenidas de traçado reto e pouco usual para a época. Em museus do Brasil e do mundo, sobrevive a arte de gênios holandeses da pintura e da botânica como Albert Eckhout e Frans Post, que documentaram o Brasil com cores e formas incomuns em outros registros. A partir de agora, um lado mais obscuro, mas não menos importante, da herança holandesa deve ganhar renovada atenção: o religioso. No livro “A Primeira Igreja Protestante do Brasil” (Ed. Mackenzie, 2013), lançado na semana passada, a historiadora e professora cearense Jaquelini de Souza conta a história da “Igreja Reformada Potiguara”, criada por índios com apoio holandês e mantida em funcionamento pelos nativos mesmo depois da expulsão desses colonizadores pelos portugueses.
Como a história de qualquer igreja em seus primórdios, a da Igreja Potiguara começa confusa, com a ida para a Holanda, em 1625, daqueles que viriam a ser duas de suas maiores lideranças indígenas. Pedro Poty e Antônio Paraupaba, índios potiguaras, embarcaram para os Países Baixos em junho daquele ano sem saber bem o que fariam por lá. Ao aportar, foram apresentados ao que o país tinha de melhor, receberam educação formal e religiosa de ponta e logo se converteram ao protestantismo. Mas, diferentemente do que costumava acontecer com índios que iam à Europa com os ingleses e os franceses, cinco anos depois Paraupaba e Poty voltaram ao Brasil, em data que coincide com o início da segunda invasão holandesa (leia quadro) no País. Por aqui, assumiram funções administrativas, militares e espirituais. Aos poucos, deram corpo, com outros índios igualmente educados na fé, a um programa intenso de catequese e de formação de professores reformados indígenas. Incipiente, a igreja em formação se reunia nas aldeias e fazia batismos, casamentos, profissões de fé e ceias do senhor. “Já era a Igreja Potiguara porque, teologicamente, havendo dois ou três reunidos em nome de Deus, independentemente do lugar, está ali uma igreja”, diz Jaquelini.
Pouco na nascente igreja a fazia diferir de outras experiências religiosas europeias nas Américas. Havia o componente protestante, que aproximava o índio do colonizador de forma inédita por colocar a educação do nativo como pré-requisito para sua conversão, algo que os católicos pouco faziam. Mas, ainda assim, tratava-se de uma experiência religiosa mediada por uma força impossível de ignorar: a de colonizador sobre colonizado. “Por isso, argumento que foi só depois da expulsão dos holandeses que vimos aflorar a verdadeira Igreja Potiguara”, diz Jaquelini. Expulsos do Brasil em 1654, os batavos abandonaram os potiguaras convertidos e outros nativos, aliados políticos e militares contra os portugueses, à própria sorte. Mesmo assim, a maioria dos protestantes manteve sua fé. Refugiados dos portugueses na Serra da Ibiapaba, no Ceará, onde chegaram depois de caminhar 750 quilômetros do litoral pernambucano ao sertão, eles continuaram praticando a fé protestante e chegaram a converter índios tabajaras, que também estavam no refúgio. Enquanto isso, Paraupaba, já tido como um brilhante historiador e profundo conhecedor da “Bíblia”, tentava, na Holanda, apoio para os refugiados – um esforço que não rendeu frutos imediatos.
Nada, porém, tirou o peso da experiência protestante na Ibiapaba. Um relato do famoso padre Antônio Vieira, jesuíta português incumbido de relatar à Companhia de Jesus o que acontecia na região, dá o tom ao batizar o lugar de “Genebra de todos os sertões”. A cidade de Genebra está para os protestantes como o Vaticano está para os católicos. Em outro trecho, Vieira diz que os índios “estão muitos deles tão calvinistas e luteranos como se nasceram em Inglaterra ou Alemanha”. Não se sabe ao certo o que restou dos índios da Igreja Potiguara depois que o grupo se desfez, ao que tudo indica, passados seis anos de vida em comunidade na Ibiapaba. Especula-se que alguns se juntaram aos opositores dos portugueses durante as Guerras dos Bárbaros a partir de 1688. Outros teriam voltado ao catolicismo ou às religiões nativas. O que fica para história é que esses índios foram os primeiros brasileiros protestantes. E que a Igreja Reformada Potiguara foi a primeira igreja evangélica do Brasil.
Artigo de: João Loes
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28.5.17
A velhice não ajuda contra a estupidez
A velhice não ajuda contra a estupidez
Por R.M. Menezes
A frase do título é atribuída a Lutero. A velhice pode ser
algo positivo quando se adquire sabedoria da Palavra de Deus, mas longe da
Palavra os cabelos brancos e a pele enrugada não significam nada. Alguém já
disse que os canalhas também envelhecem. Alguns velhos são tarados desprezíveis.
Em geral são frágeis e dependentes... outros são sábios segundo o mundo e
outros são agraciados por Deus com a sabedoria das Escrituras. Esta experiência
é louvável. Mas que ninguém se engane, a sabedoria, o discernimento, o
conhecimento da Palavra não tem idade.
Compreendendo, meditando e praticando a Palavra de Deus
entendemos mais do que os nossos professores. O dom da graça, do arrependimento,
do perdão, do agradecimento e contentamento podem alcançar uma criança e
envergonhar um adulto. Não há idade para conhecer Deus, ter prazer em Deus, em
sua Palavra.
Por que Davi escreveu que sabia mais que seus professores e
os mais velhos? Via de regra, pelo senso comum, os mais velhos tem certa
vantagem em experiência, estudo e observação. Cicatrizes e rugas são linhas de
memórias proveitosas para alguns. Como disse Jó: “Com os idosos está a
sabedoria, e na longevidade o entendimento”. (Jó 12:12).
No entanto o praticante da Palavra terá maior sabedoria,
pois guarda os mandamentos de Deus, independente da idade. -- Ninguém despreze
a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no
espírito, na fé, na pureza. (1 Timóteo 4:12). – A juventude sem a sabedoria da
Palavra também é tão inútil quanto a velhice sem o conhecimento de Deus. Mas
não um conhecimento vazio, mas com temor.
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; bom
entendimento têm todos os que cumprem os seus mandamentos; o seu louvor
permanece para sempre. (Sl 11.10).
Nosso esforço, pela graça, é fazer a vontade de Deus, não é
apenas o conhecimento intelectual mas a prática. Esta verdade derruba muitos
velhos e jovens. -- Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina
conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo. (Jo 7.17).
Além do mais se formos comparar o conhecimento bíblico dos
antigos e depois dos apóstolos, percorrendo toda história da Igreja, nos temos em
mãos maiores descobertas do Messias, sua Pessoa e seus ofícios. Ao longo da
história, das gerações eleitas, Deus levantou seus mestres para cuidar da Sua
Igreja e zelar por seu glorioso nome.
Por mais que possamos encher uma biblioteca do tamanho de
uma cidade somente com livros sobre Cristo, o conhecimento pleno e verdadeiro
não se pode medir, não se pode estocar, mas quando praticado, vivido na pele, um
jovem pode superar um mais velho (e que isto não seja motivo de orgulho e vanglória).
Jovem, mantenha a Palavra de Deus sempre por perto, na
leitura, na meditação, na memória, no coração. Ouça a voz do Espírito Santo em
Jó 32.7-9:
Dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos anos ensine a
sabedoria.
Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo
Poderoso o faz entendido.
Os grandes não são os sábios, nem os velhos entendem o que é
direito.
O Salmista Davi compreendeu mais do que os antigos, Deus
revelou ao seu servo a sabedoria oculta que estava em sua lei, Davi falou mais
plenamente sobre Cristo do que qualquer um antes dele, rivalizou, no bom
sentido, com Isaías. Há um evangelho sublime nos salmos. Cave que encontrará o
tesouro. E ninguém pode cavar por você.
Assim como o Inimigo se esforça para espalhar o erro, nos
esforcemos para adquirir um tesouro inestimável, a sabedoria verdadeira, que
conduz à vida.
A idade é de grande proveito, pela experiência e pratica. Não
busque sabedoria em outro lugar além da Palavra, e caso beba de outras fontes,
filtre pela palavra. A palavra é ou não é a única regra de fé e prática?
Cuidado! Que a curiosidade não te leve ao orgulho, que a ambição não te leve a
glória de si nem a heresia. Temor, simplicidade e humildade sejam teus guias. Lembre-se,
nossos pés são fracos e os caminhos tortuosos e escorregadios.
Deus deu rica sabedoria a Davi que transmitiu a seu filho
Salomão que pode dizer:
E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de
todos os do oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. (1 Reis 4:30). E
mesmo assim, Salomão cometeu muitos erros por falta de temor.
Tudo que precisamos está em Cristo. A sabedoria (sophia) e o
conhecimento (gnosis), tudo que o homem busca está em Cristo. Em quem estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. (Colossenses 2:3). Cristo
é o tesouro oculto de Deus.
É preciso andar neste Caminho, entrar por esta Porta e ver
claramente com esta Luz. Jesus Cristo é o logos, a Palavra, o Grande Livro de
sabedoria. Leia as bem-aventuranças e ouça sua voz com fé e amor. Siga seus
passos nas Escrituras, sente-se aos seus pés, ouça sua voz.
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14.5.17
PRESBITERIANISMO NORDESTINO – Parte 1 - Pernambuco, Norte e Nordeste
PRESBITERIANISMO NORDESTINO – Parte 1
R.M. MENEZES
Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. 1
Coríntios 3:6
As primeiras sementes do protestantismo cristão no Brasil derivam
de franceses e holandeses, os precursores da semente evangélica em nossa terra.
Em 1555 os franceses huguenotes desembarcaram no Rio de
Janeiro, período curto, até 1567, após forte oposição portuguesa com recuos e martírios.
Havia uma intenção de criar uma colônia francesa na Baia de Guanabara, Rio de
Janeiro. E o protestantismo calvinista apesar de não ter sido estabelecido
nesta ocasião, missionários como Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon
e André la Fon deixaram por escrito a primeira confissão de fé da América e
foram mortos por sua fé. Este documento é conhecido como a Confissão de Fé de
Guanabara.
Em 1637 temos a presença holandesa com Mauricio de Nassau no
Brasil. Os holandeses em Pernambuco implantaram todo um sistema eclesiástico
com pastores, presbíteros, diáconos, membros, presbitério e sínodo. Prenunciava
algo futuro, que Deus não deixaria de levar seu Evangelho em todos os lugares
da terra. A ocupação holandesa no Nordeste do Brasil (1630-1652) sofreu dura
oposição do romanismo colonial e os holandeses foram expulsos do Brasil. Mas o
protestantismo retornaria com outros missionários.
Podemos resumir essas duas tentativas como duas fases de
introdução incompleta do protestantismo no Brasil.
O século XIX é de particular destaque de maior semeadura e
irrigação com os trabalhos missionários congregacionais e presbiterianos. Nesse
século citado, nos EUA, por razões missionárias os presbiterianos e
congregacionais uniram-se e formaram um acordo de intercâmbio de pastores entre
as duas denominações. Esta união resultou em associações religiosas como a
União Americana de Escolas Dominicais, a Sociedade Bíblica Americana, a
Sociedade Americana de Educação e a Sociedade de Missões Estrangeiras.
Em 1836, vale destacar, antes da terceira (ou quarta) fase
de evangelização protestante, chegou ao Rio de Janeiro, muito antes de Kalley,
o missionário metodista R. Justus Sapaulding – o trabalho metodista oficialmente
só vingou 20 anos depois da rápida presença do missionário Sapaulding (seis
anos, apenas, tempo esse que se estende de 1836 a 1841). Spaulding, Murdy e
Kidder, três missionários metodistas no Brasil fizeram um brilhante trabalho de
distribuição de Bíblias. Há poucos relatos desse período metodista, mas se sabe
que em 1864 a Igreja Católica proibiu a distribuição de Bíblias em Maceió e em
1865 também houve proibição de Bíblias na cidade de Escada-PE. Em 1867 já havia
uma grande polêmica sobre “Bíblias falsas” e publicações católicas romanas
combatendo a distribuição de Bíblias. Essa característica protestante de
distribuição de Bíblia é um fato que merece destaque.
Em 1855 chega ao Rio de Janeiro o missionário congregacional
escocês, Robert Reid Kalley. Missionário que realizou um importante trabalho de
plantação de igrejas e em 1879 recebeu apoio da Inglaterra com a chegada do
Rev. Fanstone. Este projeto missionário nascido no Rio de Janeiro irradiou-se
para Pernambuco com o diácono congregacional Manoel José da Silva Viana. A
primeira igreja congregacional de Recife e do Nordeste se chama Pernambucana
(1873). Merece um estudo a parte.
Os primeiros missionários presbiterianos ao Brasil são
oriundos da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (PCUSA). Fundaram
igrejas, seminários e colégios. Segundo o professor Alderi Souza de Matos, --:
“Os obreiros da PCUS foram os pioneiros presbiterianos no
nordeste e norte do Brasil (de Alagoas até a Amazônia). Os principais foram
John Rockwell Smith, fundador da igreja do Recife (1878); DeLacey Wardlaw,
pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o “médico amado” de
Pernambuco. O mais conhecido dentre os primeiros pastores brasileiros do
nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família
presbiteriana. Enquanto isso, os missionários da Igreja do norte dos Estados
Unidos, auxiliados por novos colegas, davam continuidade ao seu trabalho. Seus
principais campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e
Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb”.
1859 – O ano marcante da chegada do primeiro missionário
presbiteriano no Brasil:
Em 1859 a missão presbiteriana envia ao Brasil, S. G.
Simonton, que desembarca no Rio de Janeiro. Em 1862 é organizada a primeira
igreja presbiteriana do Brasil no Rio.
1873 – O marco do primeiro missionário presbiteriano no
Nordeste do Brasil:
Em 1873 desembarca em Pernambuco o Rev. John Rockwell Smith,
o qual exerceu um abençoado ministério de 1873 a 1892. O Rev. Smith visitou
todas as principais cidades do Nordeste brasileiro. Organizou além da Igreja de
Recife (1878), a de João Pessoa-PB em 1884 e a de Maceió em 1887.
Ainda em 1873 chega ao Recife o Rev. John Boyle e neste
mesmo ano inaugura uma congregação presbiteriana na mesma cidade. Em 1875 o
missionário Boyle vai para Campinas-SP e o Rev. Lecont vem para auxiliar Smith.
A partir de 1874 acontece a primeira expansão missionária
presbiteriana de Pernambuco em direção a Maceió-Al e Pilar-Al. Havia nesse tempo
muitos perigos de perseguição violenta de católicos romanos, de assaltos e
apedrejamento.
Em 1875 o Rev. Smith visita Fortaleza-Ce e São Luiz-MA.
Neste mesmo ano fundou um jornal, o primeiro jornal evangélico no Nordeste do
Brasil.
Em 1877 houve a grande seca no Nordeste. Entre 1887 e 1879,
um obreiro presbiteriano paraibano foi perseguido e martirizado. Sr. Filadelfo
de Souza teve sua casa assaltada por um grupo armado, após este fato sua esposa
enlouqueceu e morreu.
1878 – Organização da Primeira Igreja Presbiteriana do
Recife.
Em 1878 – Ano marcante para o presbiterianismo nordestino. O
Rev. Smith organizou a Primeira Igreja Presbiteriana do Recife, ministrada pelo
Rev. Blackford.
Havia na fundação da Igreja Presbiteriana de Recife três
ministros brasileiros: Rev. João batista Lima, nascido em Porto Calvo-AL, Rev.
Belmiro de Araújo Cesar, natural de Goiana-PE e o Rev. José Primênio, natural
de Brejo da Madre de Deus-PE.
O Rev. Belmiro de Araújo Cesar, também jornalista, tornou-se
professor de Inglês, Grego e Geografia.
Em 1878 fundam-se os trabalhos presbiterianos em Nazaré da
Mata-PE e Goiana-PE.
Em 1879 o Rev. Smith era combatido diretamente de Portugal
por meio de jornais e livros.
Ainda em 1879 houve um fato lamentável, outro martírio,
próximo a cidade de Caruaru-PE, local próximo a São Bento do Uma-PE, a vítima
foi o presbiteriano Jose Antônio dos Anjos (ou Antos).
Em 1880 chega reforço missionário ao Recife, o Rev. B. F.
Thompson, recém-ordenado em 1879, e após sua chegada em Recife viveu apenas
dois meses, acometido de uma febre tropical, possivelmente. Uma grande tristeza
abateu o trabalho missionário em campo pernambucano.
Ainda no mesmo ano, em 1880, chega ao Recife o Rev. Lacy
Wardlam. Em 1882 realiza missões no Ceará e em Goiana-Pe, nesta cidade é
hostilizado por moradores, porém um juiz municipal acalmou a situação. Sempre
havia o perigo de morte para os missionários protestantes.
Em 1883 havia cultos em vários locais, como Itamaracá-PE,
Pão de Açúcar-AL, Penedo-AL, mas todos locais com grande hostilidade católica
romana. 1887 é fundada a Igreja em Maceió-AL e também em Pão de Açúcar-AL.
1888 é um ano marcante, ano de fundação oficial do
presbitério de Pernambuco, separando-se dos Concílios Americanos, Sul, Norte e Sínodo
de Baltimore.
A partir de 1888 passam a constituir quatro presbitérios:
1. Rio de
Janeiro.
2. Pernambuco.
3. São
Paulo.
4. Oeste de
Minas Gerais.
1889 o Presbitério de Pernambuco ordena dois ministros, o
Rev. W. C. Poter, americano, e Rev. Juventino Marinho, pernambucano de Goiana.
Ambos treinados pelo Rev. Smith.
1894 o Rev. Butler chega a Garanhuns-PE e dá apoio em
Canhotinho-PE. Em 1895 quinze pessoas são convertidas em Garanhuns. E é
realizada a primeira Santa Ceia nesta cidade.
Em 1888 só havia três presbitérios: Pernambuco, Rio de
Janeiro e Campinas/Oeste de Minas Gerais. Este último presbitério posteriormente
dividiu-se e organizou-se em presbitério de São Paulo e presbitério Oeste de
Minas Gerais.
O presbitério de [Norte] Pernambuco abrangia uma grande área
interestadual compreendia Recife, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará, Fortaleza
até o Amazonas. E o presbitério Sul de Pernambuco cingia o Agreste de
Pernambuco, e Alagoas até Paulo Afonso na Bahia.
Igrejas organizadas por missionários presbiterianos antes de
1888, antes da formação oficial dos presbitérios:
1. Paraíba.
2. Mossoró-RN.
3. Fortaleza-CE
4. Garanhuns-PE
5. Pernambucana
– 1879
6. Recife –
1878
7. Goiana-PE
– 1886
8. Laranjeiras-SE
– 1884
9. Nazaré-PE
– 1887
10. Paulo
Afonso-BA – 1886
11. Maceió –
1887
12. Pão de
Açúcar-AL – 1888
Igrejas organizadas depois da formação do presbitério de Pernambuco
antes de 1927:
1. Palmares
– 1903
2. Catende –
1926
3. Garanhuns
– 1900
4. Águas
Belas – 1922
5. Macéio –
1908 (reorganizada)
6. Canhotinho
– 1902
7. Gameleira
– 1914
8. Caruaru –
1927
A sede organizacional do presbitério sul de Pernambuco
situava-se nos Estados Unidos, o Sínodo de Baltimore, posto missionário de um
importante e desconhecido homem, Rev. John Leigton Wilson, missionário
americano que serviu por 14 anos na África e foi secretário da Junta de Missões
Presbiterianas Americana. Foi este homem que enviou para o Brasil três
missionários: Simonton, Blackford e Scheineider. Cujo trabalho missionário
formou a Igreja Presbiteriana do Brasil.
**
Referência:
Presbitério Sul de Pernambuco, História do Presbiterianismo
no Nordeste Brasileiro, Rev. Elias Sabino de Oliveira.
O Presbiterianismo no Nordeste do Brasil (II), Claúdio
Henrique Albuquerque, Vox Reformata, Publicação do SPN. 2012, nº 2, Vol. I.
28.9.14
A importância da preservação da memória histórica da igreja local - Igreja Congregacional de Poço Fundo-PE
A importância da preservação da memória histórica da igreja
local - Igreja Congregacional de Poço Fundo-PE
![]() |
Restauração do templo de Poço Fundo-PE |
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Restauração |
![]() |
Ontem e hoje, destaque para o templo em ruínas abaixo à esquerda na imagem |
A memória histórica ou institucional é um dos fundamentos que
dá sentido ao fortalecimento das bases, preservar a memória é manter algo vivo.
Quando nos referimos a memória de uma igreja local não é diferente. A pequena
igreja histórica de Poço Fundo, interior do agreste de Pernambuco, é fruto dos
primeiros trabalhos evangelísticos na região, no começo da década de 1930, através
de missionários congregacionais vindo da Inglaterra e com apoio de irmãos de
Recife e Caruaru, no mesmo estado.
O resgate e a preservação do patrimônio não fazem sentido
sem preservar a história dos pioneiros, as pessoas que avançaram com o Evangelho
de Jesus Cristo, pois é uma construção que traz as marcas das pessoas que
fizeram parte dela.
Tanto os pioneiros que passaram por esta região como os que
continuaram trabalhando nela têm dado sua contribuição para construir essa
história que se busca preservar, hoje, através do Pr. Celso Galindo e irmãos da
Igreja Evangélica Congregacional de Poço Fundo. Este pastor juntamente com os
irmãos da cidade de Poço Fundo e outras localidades lutaram para que a memória
fosse preservada, conservaram fotos, documentos, objetos e relatos da época dos
primeiros trabalhos missionários na região.
O pequeno templo estava em ruínas, abandonado por décadas, e
sujeito a todo tipo de descaso e destruição. Por pouco uma nova rodovia não
destruiu a área com entulhos. Mas com o empenho dos irmãos da Congregacional da
cidade de Poço Fundo aos poucos o templo foi restaurado e em janeiro de 2012 o
templo foi reinaugurado. Hoje o templo é usado semanalmente durante o meio da semana e uma vez por mês, aos sábados, é realizado um culto. Nos domingos os irmãos da igreja congregacional se reúnem no templo no centro da cidade. O templo antigo é afastado da cidade.
Preservar a memória da igreja local não é só resgatar o
passado, é também compreender como nasce um trabalho missionário e reconhecer
que o passado tem muito a ensinar, reconhecer que houve trabalho suado para que
o solo fosse preparado para a semente, que os antigos é que araram o solo
rochoso e que muito foi feito por aqueles irmãos do passado, e que a igreja de
hoje apenas entrou no trabalho dos precursores. -- Eu vos enviei a ceifar onde
vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho. João
4:38
Preservar a memória é ter referenciais para construir o
presente e enxergar o futuro, é descobrir os valores e renovar os vínculos com
os antigos irmãos, é refletir sobre a história, não apenas como quem recorda,
mas para andar nos caminhos dos pioneiros. É algo que contribuiu para a
formação da consciência histórica dos membros da igreja local e dos cidadãos
que moram em toda região do agreste e de todo Pernambuco.
A restauração do templo e preservação do local tem uma importância
permanente da consciência da região e um componente fundamental da identidade
da igreja local. O passado, presente e futuro constituem uma continuação, é
algo continuo. Todos nós estamos enraizados no passado. Seja da família,
comunidades, nações ou até mesmo da memória pessoal. A importância da
preservação do patrimônio é algo valioso para as próximas gerações.
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Pintura em tela do antigo templo |
Rev. William Bannister Forsyth |
Antigo púlpito do templo |
Um breve resumo sobre o trabalho missionário na região:
Por volta dos anos de 1930, um missionário congregacional
Inglês chamado William Forsyth realizou um trabalho evangelístico na região do
Agreste Pernambucano, na região do sítio Porteiras, zona rural de Santa Cruz do
Capibaribe, construiu a primeira Igreja Evangélica da cidade, a Igreja
Evangélica Congregacional próximo a vila de Poço Fundo. Tive acesso a alguns
documentos dessa igreja e registros de Forsyth por volta de 2005. Cheguei a
visitar as ruínas dessa igreja histórica, ela estava num terreno abandonado,
cheio de mato, sem teto, sem portas e janelas.
Através do Pr. Celso Galindo tive a oportunidade de conhecer um pouco da história
dessa igreja e algumas coisas me chamaram a atenção. Alguns bancos de madeira, o
púlpito e outros objetos foram preservados por algumas pessoas da antiga igreja
em suas casas. Nas ruínas da igreja ainda dava para perceber a mancha na parede
provocada pela fumaça do candeeiro que ficava ao lado do púlpito. Imaginei
Forsyth pregando ali durante a noite.
Um dado dos mais importantes, é que Forsyth era um
missionário de linha calvinista e ensinava as antigas doutrinas da graça
naquela região. Um dos registros é que após uma grande temporada no campo
missionário nos povoados do Agreste pernambucano, o missionário recebeu uma
visita de um tipo de Conselheiro de Missões, que ao ver um povo tão simples e
analfabeto sendo doutrinado pelas doutrinas da graça estranhou que tal
congregação compreendesse os ensinamentos e sugeriu que Forsyth não ensinasse
doutrinas mais profundas como eleição, predestinação e graça soberana.
Prontamente Forsyth rebateu e disse que continuaria a pregar toda verdade. --
Acho essa história comovente. – Com certeza ele tinha a confiança na obra de
ensino do Espírito Santo nos escolhidos de Deus.
Algumas observações: Por volta de 1930 o Agreste
pernambucano era uma região castigada por falta de infraestrutura. A região
ainda hoje é difícil de se morar com seu clima semi-árido, solo seco e rachado,
presença da caatinga e muito calor. No início dos anos 30 do século passado é
registrado um período de grande seca. Um dos registros de Forsyte é que ao
fazer missões na região levava apenas o alimento suficiente para uma viagem a
cavalo, não levava suprimentos além de uma viagem, pois não queria chegar numa
casa estando abastado quando encontrava famílias sem nenhum alimento em seus
lares. Muitas vezes, Forsyth e sua esposa Edith, ao evangelizar uma família
participavam de “refeições” nessas casas à base de farinha de palma e água barrenta.
Conta o missionário que à mesa com esse povo sofrido orava ao Senhor
agradecendo o alimento e suas lágrimas se misturavam a farinha no prato.
Rev. William Bannister Forsyth |
Ele foi um missionário que realmente chamava o perdido em
lugares distantes. Ensinou doutrinas profundas e amou as doutrinas da graça.
(...)
Rev. William Bannister Forsyth nasceu no dia 31 de julho de
1906 e morreu no dia 20 de março de 2007, em Wiveliscombe, no sul da Inglaterra.
Em 1999, ainda pregando aos 93 anos de idade, Rev. Forsyth
escreveu ao seu neto Tim: "Setenta e quatro anos se passaram: já preguei
literalmente milhares de vezes, e ainda é a mesma sensação de quando eu ouvi o
Evangelho pela primeira vez: o Evangelho cristocêntrico, fundamentado na Bíblia
é fonte inesgotável de vida”.
William Bannister Forsyth é autor de uma biografia de Robert Kalley, o primeiro missionário evangélico moderno, JORNADA NO IMPÉRIO, publicado pela Editora Fiel: http://www.editorafiel.com.br/produto/4018312/Jornada-no-Imperio
William Bannister Forsyth é autor de uma biografia de Robert Kalley, o primeiro missionário evangélico moderno, JORNADA NO IMPÉRIO, publicado pela Editora Fiel: http://www.editorafiel.com.br/produto/4018312/Jornada-no-Imperio
22.5.10
Início do trabalho evangélico em Caruaru e região do Agreste – Relato histórico

Vejetação do Agreste

1a Igreja Evangélica em Caruaru
Dia 15 de agosto de 1898, o missionário inglês Charles Kingston, pastor da Igreja Evangélica Congregacional Pernambucana no Recife visitou Caruaru para proclamar a mensagem de Cristo. O trabalho missionário sofreu dura perseguição, porém o pastor Kingston continuou orando e trabalhando. Esta semente originou a primeira Igreja Congregacional em Caruaru.
O romanismo sempre muito forte na região do Nordeste fez de tudo para expulsar o missionário da região. Arrastaram os móveis do casal Kingston para a rua e puseram fogo, além de agredirem fisicamente a esposa do missionário. Após viverem muita pressão o casal Kingston refugiou-se pela vizinhança e depois transferiram a residência para Vitória de Sto. Antão.
O pastor Kingston foi substituído pelo Sr. José dos Santos, um simples cristão humilde e dedicado. Este veio a sofrer o martírio. Dia 5 de novembro de 1902, pela manhã, quando se dirigia à casa de oração, acompanhado de sua família, o irmão Santos foi apunhalado por um grupo de fanáticos católicos. Conforme versão da época, o servo Santos suplicou por sua vida e não obteve misericórdia dos seus algozes. Sua esposa foi espancada. Os homicidas e mandantes foram identificados e submetidos a júri, foram absolvidos. Após esse incentivo à intolerância religiosa, outras crentes foram perseguidos e maltratados em várias ocasiões. Invadiam locais de cultos, quebravam mobílias, rasgavam livros e apedrejavam as pessoas.
Em 1906, o frade capuchinho, Frei Celestino realizou “santas missões”, inflamando católicos a tomarem com violência Bíblias dos crentes para destruir em praça pública com fogo. O povo presenciava isso com naturalidade e as autoridades faziam vista grossa. Jornais de Recife é que tomaram a iniciativa em denunciar, a Constituição já ordenava respeito às crenças religiosas. Até 1908 a perseguição correu naturalmente.
Em 1911 havia aproximadamente duas dúzias de evangélicos em Caruaru. Em 1921 a Sra. Kingston, já viúva, retornou a Caruaru trazendo outra missionária, Sra. Frost, ambas iniciaram uma escola de alfabetização e desenvolveram obras de ação social. O pastor Haldane, líder da Igreja Pernambucana dava apoio constante a Caruaru. Em 1924 a Sra. Frost faleceu acometida por febre amarela. Seus restos mortais estão no cemitério São Roque e na sepultura está gravado: “Ela fez o que pode”.
Muitos outros irmãos deram sua energia à propagação do Antigo Evangelho na Região: missionários e missionárias, ingleses, escoceses e pernambucanos. Colportagem e pregação fizeram nascer o trabalho evangélico na região do Agreste pernambucano.
W. B. Forsyth deixou registrado um documento de 41 páginas (o qual tenho uma cópia em mãos) narrando o trabalho pioneiro da Igreja evangélica no Interior de Pernambuco, especialmente no Agreste. Não posso deixar de compartilhar tal raridade.
Conta forsyth, missionário congregacional inglês, que desembarcou em Recife em 1928 indo de encontro ao pastor Thomas Duncan, residente em Caruaru. Sua noiva Edith Paton já estava em caruaru morando com a missionária Rose Stenhen. Disse Forsyth ao amigo Duncan ao ver a igreja e a cidade que “era melhor morar em Caruaru do que em Recife”.
O ponto alto da missão de Forsyth foi viajar pelo Agreste (Porteiras e Poço Fundo). Era tempo de seca e viu cenas tristes, flagelados andando como zumbis pelas estradas em busca de socorro. Apesar do flagelo, o missionário diz que amou a terra de cactos, “terra amada! Inesquecível! Não me admiro que o sertanejo ame tanto a sua terra: basta chover e todo desterrado volta para lá”.
Grandes distâncias Forsyth viajava de Chevrolet (emprestado do Sr. Duncan). Acostumado com as boas estradas da Inglaterra não acreditava como um automóvel conseguisse andar em trilhas tão ruins. Hospedava-se em casas rústicas e de chão batido. Nas regiões mais afastadas andavam a noite com tochas para iluminar o caminho e dormiam em redes. Eles pregavam à luz de lamparina improvisada com lata de conserva e pavio de algodão. Verdadeiros crentes.
Esses missionários inicialmente pregavam com ajuda de outro missionário interprete que chegava primeiro ao campo. Uma das orientações dada a Forsyth era que não falasse de coisas profundas da Bíblia e da doutrina, mas que falasse com simplicidade das coisas elementares do Evangelho. Muita gente não sabia ler e não seria capaz de entender certas verdades. Mas Forsyth aprendeu que mesmo analfabetos, mas sob a orientação do Espírito Santo “o profundo lhes era claro”. Eram capazes de assimilar verdades doutrinárias tanto quanto os crentes cultos. Muita gente simples confessou Jesus Cristo como Senhor e Salvador em muitos pontos de pregação, congregações e igrejas.
As perseguições eram variadas, algumas vezes quando chegava um grupo de crentes numa localidade e davam início ao evangelismo, os sinos das igrejas romanas começavam a tocar furiosamente, o povo corria para saber o que era, anunciavam: “Invasão da Nova Seita!”. Os padres atiçavam os fiéis a expulsar os crentes dos vilarejos. Com vivas a Virgem Maria e a Santa Madre Igreja Católica Romana. Os padres exigiam retirada imediata, mas os missionários resistiam alegando que o Brasil era uma pátria secularizada e que não havia igreja oficial e que a Constituição garantia liberdade de culto. Quando os padres não conseguiam expulsar na base do medo, desafiavam: “Quem lhe autorizou a pregar? Que bispo lhe impôs as mãos?”. O missionário respondia: “Homem algum me autorizou a pregar. Cristo Jesus mandou que os seus discípulos pregassem o Evangelho a toda criatura. O Senhor Jesus me autorizou a pregar!”. Isso debaixo de vivas a Maria e pedradas.
Fonte: Material datilografado por Forsyth (sem data.)
Continua...
4.5.10
Povo sertanejo -- Darcy Ribeiro
Essa série de episódios registra o povo sertanejo, vale a pena conhecer o olhar histórico e antropológico do povo nordestino. Como diz Suassuna: "Beleza grandiosa, terrível, não graciosa".
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