28.9.14

A importância da preservação da memória histórica da igreja local - Igreja Congregacional de Poço Fundo-PE

A importância da preservação da memória histórica da igreja local - Igreja Congregacional de Poço Fundo-PE


Restauração do templo de Poço Fundo-PE

Restauração

Ontem e hoje, destaque para o templo em ruínas abaixo à esquerda na imagem


A memória histórica ou institucional é um dos fundamentos que dá sentido ao fortalecimento das bases, preservar a memória é manter algo vivo. Quando nos referimos a memória de uma igreja local não é diferente. A pequena igreja histórica de Poço Fundo, interior do agreste de Pernambuco, é fruto dos primeiros trabalhos evangelísticos na região, no começo da década de 1930, através de missionários congregacionais vindo da Inglaterra e com apoio de irmãos de Recife e Caruaru, no mesmo estado.

O resgate e a preservação do patrimônio não fazem sentido sem preservar a história dos pioneiros, as pessoas que avançaram com o Evangelho de Jesus Cristo, pois é uma construção que traz as marcas das pessoas que fizeram parte dela.

Tanto os pioneiros que passaram por esta região como os que continuaram trabalhando nela têm dado sua contribuição para construir essa história que se busca preservar, hoje, através do Pr. Celso Galindo e irmãos da Igreja Evangélica Congregacional de Poço Fundo. Este pastor juntamente com os irmãos da cidade de Poço Fundo e outras localidades lutaram para que a memória fosse preservada, conservaram fotos, documentos, objetos e relatos da época dos primeiros trabalhos missionários na região.

O pequeno templo estava em ruínas, abandonado por décadas, e sujeito a todo tipo de descaso e destruição. Por pouco uma nova rodovia não destruiu a área com entulhos. Mas com o empenho dos irmãos da Congregacional da cidade de Poço Fundo aos poucos o templo foi restaurado e em janeiro de 2012 o templo foi reinaugurado. Hoje o templo é usado semanalmente durante o meio da semana e uma vez por mês, aos sábados, é realizado um culto. Nos domingos os irmãos da igreja congregacional se reúnem no templo no centro da cidade. O templo antigo é afastado da cidade.

Preservar a memória da igreja local não é só resgatar o passado, é também compreender como nasce um trabalho missionário e reconhecer que o passado tem muito a ensinar, reconhecer que houve trabalho suado para que o solo fosse preparado para a semente, que os antigos é que araram o solo rochoso e que muito foi feito por aqueles irmãos do passado, e que a igreja de hoje apenas entrou no trabalho dos precursores. -- Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho. João 4:38

Preservar a memória é ter referenciais para construir o presente e enxergar o futuro, é descobrir os valores e renovar os vínculos com os antigos irmãos, é refletir sobre a história, não apenas como quem recorda, mas para andar nos caminhos dos pioneiros. É algo que contribuiu para a formação da consciência histórica dos membros da igreja local e dos cidadãos que moram em toda região do agreste e de todo Pernambuco.

A restauração do templo e preservação do local tem uma importância permanente da consciência da região e um componente fundamental da identidade da igreja local. O passado, presente e futuro constituem uma continuação, é algo continuo. Todos nós estamos enraizados no passado. Seja da família, comunidades, nações ou até mesmo da memória pessoal. A importância da preservação do patrimônio é algo valioso para as próximas gerações.


Pintura em tela do antigo templo

Rev. William Bannister Forsyth 

Antigo púlpito do templo


Um breve resumo sobre o trabalho missionário na região:

Por volta dos anos de 1930, um missionário congregacional Inglês chamado William Forsyth realizou um trabalho evangelístico na região do Agreste Pernambucano, na região do sítio Porteiras, zona rural de Santa Cruz do Capibaribe, construiu a primeira Igreja Evangélica da cidade, a Igreja Evangélica Congregacional próximo a vila de Poço Fundo. Tive acesso a alguns documentos dessa igreja e registros de Forsyth por volta de 2005. Cheguei a visitar as ruínas dessa igreja histórica, ela estava num terreno abandonado, cheio de mato, sem teto, sem portas e janelas.

Através do Pr. Celso Galindo tive a oportunidade de conhecer um pouco da história dessa igreja e algumas coisas me chamaram a atenção. Alguns bancos de madeira, o púlpito e outros objetos foram preservados por algumas pessoas da antiga igreja em suas casas. Nas ruínas da igreja ainda dava para perceber a mancha na parede provocada pela fumaça do candeeiro que ficava ao lado do púlpito. Imaginei Forsyth pregando ali durante a noite.

Um dado dos mais importantes, é que Forsyth era um missionário de linha calvinista e ensinava as antigas doutrinas da graça naquela região. Um dos registros é que após uma grande temporada no campo missionário nos povoados do Agreste pernambucano, o missionário recebeu uma visita de um tipo de Conselheiro de Missões, que ao ver um povo tão simples e analfabeto sendo doutrinado pelas doutrinas da graça estranhou que tal congregação compreendesse os ensinamentos e sugeriu que Forsyth não ensinasse doutrinas mais profundas como eleição, predestinação e graça soberana. Prontamente Forsyth rebateu e disse que continuaria a pregar toda verdade. -- Acho essa história comovente. – Com certeza ele tinha a confiança na obra de ensino do Espírito Santo nos escolhidos de Deus.

Algumas observações: Por volta de 1930 o Agreste pernambucano era uma região castigada por falta de infraestrutura. A região ainda hoje é difícil de se morar com seu clima semi-árido, solo seco e rachado, presença da caatinga e muito calor. No início dos anos 30 do século passado é registrado um período de grande seca. Um dos registros de Forsyte é que ao fazer missões na região levava apenas o alimento suficiente para uma viagem a cavalo, não levava suprimentos além de uma viagem, pois não queria chegar numa casa estando abastado quando encontrava famílias sem nenhum alimento em seus lares. Muitas vezes, Forsyth e sua esposa Edith, ao evangelizar uma família participavam de “refeições” nessas casas à base de farinha de palma e água barrenta. Conta o missionário que à mesa com esse povo sofrido orava ao Senhor agradecendo o alimento e suas lágrimas se misturavam a farinha no prato.


Rev. William Bannister Forsyth 


Ele foi um missionário que realmente chamava o perdido em lugares distantes. Ensinou doutrinas profundas e amou as doutrinas da graça. (...)

Rev. William Bannister Forsyth nasceu no dia 31 de julho de 1906 e morreu no dia 20 de março de 2007, em Wiveliscombe, no sul da Inglaterra.


Em 1999, ainda pregando aos 93 anos de idade, Rev. Forsyth escreveu ao seu neto Tim: "Setenta e quatro anos se passaram: já preguei literalmente milhares de vezes, e ainda é a mesma sensação de quando eu ouvi o Evangelho pela primeira vez: o Evangelho cristocêntrico, fundamentado na Bíblia é fonte inesgotável de vida”.

William Bannister Forsyth é autor de uma biografia de Robert Kalley, o primeiro missionário evangélico moderno, JORNADA NO IMPÉRIO, publicado pela Editora Fiel: http://www.editorafiel.com.br/produto/4018312/Jornada-no-Imperio