A importância da preservação da memória histórica da igreja
local - Igreja Congregacional de Poço Fundo-PE
Restauração do templo de Poço Fundo-PE |
Restauração |
Ontem e hoje, destaque para o templo em ruínas abaixo à esquerda na imagem |
A memória histórica ou institucional é um dos fundamentos que
dá sentido ao fortalecimento das bases, preservar a memória é manter algo vivo.
Quando nos referimos a memória de uma igreja local não é diferente. A pequena
igreja histórica de Poço Fundo, interior do agreste de Pernambuco, é fruto dos
primeiros trabalhos evangelísticos na região, no começo da década de 1930, através
de missionários congregacionais vindo da Inglaterra e com apoio de irmãos de
Recife e Caruaru, no mesmo estado.
O resgate e a preservação do patrimônio não fazem sentido
sem preservar a história dos pioneiros, as pessoas que avançaram com o Evangelho
de Jesus Cristo, pois é uma construção que traz as marcas das pessoas que
fizeram parte dela.
Tanto os pioneiros que passaram por esta região como os que
continuaram trabalhando nela têm dado sua contribuição para construir essa
história que se busca preservar, hoje, através do Pr. Celso Galindo e irmãos da
Igreja Evangélica Congregacional de Poço Fundo. Este pastor juntamente com os
irmãos da cidade de Poço Fundo e outras localidades lutaram para que a memória
fosse preservada, conservaram fotos, documentos, objetos e relatos da época dos
primeiros trabalhos missionários na região.
O pequeno templo estava em ruínas, abandonado por décadas, e
sujeito a todo tipo de descaso e destruição. Por pouco uma nova rodovia não
destruiu a área com entulhos. Mas com o empenho dos irmãos da Congregacional da
cidade de Poço Fundo aos poucos o templo foi restaurado e em janeiro de 2012 o
templo foi reinaugurado. Hoje o templo é usado semanalmente durante o meio da semana e uma vez por mês, aos sábados, é realizado um culto. Nos domingos os irmãos da igreja congregacional se reúnem no templo no centro da cidade. O templo antigo é afastado da cidade.
Preservar a memória da igreja local não é só resgatar o
passado, é também compreender como nasce um trabalho missionário e reconhecer
que o passado tem muito a ensinar, reconhecer que houve trabalho suado para que
o solo fosse preparado para a semente, que os antigos é que araram o solo
rochoso e que muito foi feito por aqueles irmãos do passado, e que a igreja de
hoje apenas entrou no trabalho dos precursores. -- Eu vos enviei a ceifar onde
vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho. João
4:38
Preservar a memória é ter referenciais para construir o
presente e enxergar o futuro, é descobrir os valores e renovar os vínculos com
os antigos irmãos, é refletir sobre a história, não apenas como quem recorda,
mas para andar nos caminhos dos pioneiros. É algo que contribuiu para a
formação da consciência histórica dos membros da igreja local e dos cidadãos
que moram em toda região do agreste e de todo Pernambuco.
A restauração do templo e preservação do local tem uma importância
permanente da consciência da região e um componente fundamental da identidade
da igreja local. O passado, presente e futuro constituem uma continuação, é
algo continuo. Todos nós estamos enraizados no passado. Seja da família,
comunidades, nações ou até mesmo da memória pessoal. A importância da
preservação do patrimônio é algo valioso para as próximas gerações.
Pintura em tela do antigo templo |
Rev. William Bannister Forsyth |
Antigo púlpito do templo |
Um breve resumo sobre o trabalho missionário na região:
Por volta dos anos de 1930, um missionário congregacional
Inglês chamado William Forsyth realizou um trabalho evangelístico na região do
Agreste Pernambucano, na região do sítio Porteiras, zona rural de Santa Cruz do
Capibaribe, construiu a primeira Igreja Evangélica da cidade, a Igreja
Evangélica Congregacional próximo a vila de Poço Fundo. Tive acesso a alguns
documentos dessa igreja e registros de Forsyth por volta de 2005. Cheguei a
visitar as ruínas dessa igreja histórica, ela estava num terreno abandonado,
cheio de mato, sem teto, sem portas e janelas.
Através do Pr. Celso Galindo tive a oportunidade de conhecer um pouco da história
dessa igreja e algumas coisas me chamaram a atenção. Alguns bancos de madeira, o
púlpito e outros objetos foram preservados por algumas pessoas da antiga igreja
em suas casas. Nas ruínas da igreja ainda dava para perceber a mancha na parede
provocada pela fumaça do candeeiro que ficava ao lado do púlpito. Imaginei
Forsyth pregando ali durante a noite.
Um dado dos mais importantes, é que Forsyth era um
missionário de linha calvinista e ensinava as antigas doutrinas da graça
naquela região. Um dos registros é que após uma grande temporada no campo
missionário nos povoados do Agreste pernambucano, o missionário recebeu uma
visita de um tipo de Conselheiro de Missões, que ao ver um povo tão simples e
analfabeto sendo doutrinado pelas doutrinas da graça estranhou que tal
congregação compreendesse os ensinamentos e sugeriu que Forsyth não ensinasse
doutrinas mais profundas como eleição, predestinação e graça soberana.
Prontamente Forsyth rebateu e disse que continuaria a pregar toda verdade. --
Acho essa história comovente. – Com certeza ele tinha a confiança na obra de
ensino do Espírito Santo nos escolhidos de Deus.
Algumas observações: Por volta de 1930 o Agreste
pernambucano era uma região castigada por falta de infraestrutura. A região
ainda hoje é difícil de se morar com seu clima semi-árido, solo seco e rachado,
presença da caatinga e muito calor. No início dos anos 30 do século passado é
registrado um período de grande seca. Um dos registros de Forsyte é que ao
fazer missões na região levava apenas o alimento suficiente para uma viagem a
cavalo, não levava suprimentos além de uma viagem, pois não queria chegar numa
casa estando abastado quando encontrava famílias sem nenhum alimento em seus
lares. Muitas vezes, Forsyth e sua esposa Edith, ao evangelizar uma família
participavam de “refeições” nessas casas à base de farinha de palma e água barrenta.
Conta o missionário que à mesa com esse povo sofrido orava ao Senhor
agradecendo o alimento e suas lágrimas se misturavam a farinha no prato.
Rev. William Bannister Forsyth |
Ele foi um missionário que realmente chamava o perdido em
lugares distantes. Ensinou doutrinas profundas e amou as doutrinas da graça.
(...)
Rev. William Bannister Forsyth nasceu no dia 31 de julho de
1906 e morreu no dia 20 de março de 2007, em Wiveliscombe, no sul da Inglaterra.
Em 1999, ainda pregando aos 93 anos de idade, Rev. Forsyth
escreveu ao seu neto Tim: "Setenta e quatro anos se passaram: já preguei
literalmente milhares de vezes, e ainda é a mesma sensação de quando eu ouvi o
Evangelho pela primeira vez: o Evangelho cristocêntrico, fundamentado na Bíblia
é fonte inesgotável de vida”.
William Bannister Forsyth é autor de uma biografia de Robert Kalley, o primeiro missionário evangélico moderno, JORNADA NO IMPÉRIO, publicado pela Editora Fiel: http://www.editorafiel.com.br/produto/4018312/Jornada-no-Imperio
William Bannister Forsyth é autor de uma biografia de Robert Kalley, o primeiro missionário evangélico moderno, JORNADA NO IMPÉRIO, publicado pela Editora Fiel: http://www.editorafiel.com.br/produto/4018312/Jornada-no-Imperio