22.5.10

Início do trabalho evangélico em Caruaru e região do Agreste – Relato histórico

Vejetação do Agreste

1a Igreja Evangélica em Caruaru


Dia 15 de agosto de 1898, o missionário inglês Charles Kingston, pastor da Igreja Evangélica Congregacional Pernambucana no Recife visitou Caruaru para proclamar a mensagem de Cristo. O trabalho missionário sofreu dura perseguição, porém o pastor Kingston continuou orando e trabalhando. Esta semente originou a primeira Igreja Congregacional em Caruaru.

O romanismo sempre muito forte na região do Nordeste fez de tudo para expulsar o missionário da região. Arrastaram os móveis do casal Kingston para a rua e puseram fogo, além de agredirem fisicamente a esposa do missionário. Após viverem muita pressão o casal Kingston refugiou-se pela vizinhança e depois transferiram a residência para Vitória de Sto. Antão.

O pastor Kingston foi substituído pelo Sr. José dos Santos, um simples cristão humilde e dedicado. Este veio a sofrer o martírio. Dia 5 de novembro de 1902, pela manhã, quando se dirigia à casa de oração, acompanhado de sua família, o irmão Santos foi apunhalado por um grupo de fanáticos católicos. Conforme versão da época, o servo Santos suplicou por sua vida e não obteve misericórdia dos seus algozes. Sua esposa foi espancada. Os homicidas e mandantes foram identificados e submetidos a júri, foram absolvidos. Após esse incentivo à intolerância religiosa, outras crentes foram perseguidos e maltratados em várias ocasiões. Invadiam locais de cultos, quebravam mobílias, rasgavam livros e apedrejavam as pessoas.

Em 1906, o frade capuchinho, Frei Celestino realizou “santas missões”, inflamando católicos a tomarem com violência Bíblias dos crentes para destruir em praça pública com fogo. O povo presenciava isso com naturalidade e as autoridades faziam vista grossa. Jornais de Recife é que tomaram a iniciativa em denunciar, a Constituição já ordenava respeito às crenças religiosas. Até 1908 a perseguição correu naturalmente.

Em 1911 havia aproximadamente duas dúzias de evangélicos em Caruaru. Em 1921 a Sra. Kingston, já viúva, retornou a Caruaru trazendo outra missionária, Sra. Frost, ambas iniciaram uma escola de alfabetização e desenvolveram obras de ação social. O pastor Haldane, líder da Igreja Pernambucana dava apoio constante a Caruaru. Em 1924 a Sra. Frost faleceu acometida por febre amarela. Seus restos mortais estão no cemitério São Roque e na sepultura está gravado: “Ela fez o que pode”.

Muitos outros irmãos deram sua energia à propagação do Antigo Evangelho na Região: missionários e missionárias, ingleses, escoceses e pernambucanos. Colportagem e pregação fizeram nascer o trabalho evangélico na região do Agreste pernambucano.

W. B. Forsyth deixou registrado um documento de 41 páginas (o qual tenho uma cópia em mãos) narrando o trabalho pioneiro da Igreja evangélica no Interior de Pernambuco, especialmente no Agreste. Não posso deixar de compartilhar tal raridade.

Conta forsyth, missionário congregacional inglês, que desembarcou em Recife em 1928 indo de encontro ao pastor Thomas Duncan, residente em Caruaru. Sua noiva Edith Paton já estava em caruaru morando com a missionária Rose Stenhen. Disse Forsyth ao amigo Duncan ao ver a igreja e a cidade que “era melhor morar em Caruaru do que em Recife”.

O ponto alto da missão de Forsyth foi viajar pelo Agreste (Porteiras e Poço Fundo). Era tempo de seca e viu cenas tristes, flagelados andando como zumbis pelas estradas em busca de socorro. Apesar do flagelo, o missionário diz que amou a terra de cactos, “terra amada! Inesquecível! Não me admiro que o sertanejo ame tanto a sua terra: basta chover e todo desterrado volta para lá”.

Grandes distâncias Forsyth viajava de Chevrolet (emprestado do Sr. Duncan). Acostumado com as boas estradas da Inglaterra não acreditava como um automóvel conseguisse andar em trilhas tão ruins. Hospedava-se em casas rústicas e de chão batido. Nas regiões mais afastadas andavam a noite com tochas para iluminar o caminho e dormiam em redes. Eles pregavam à luz de lamparina improvisada com lata de conserva e pavio de algodão. Verdadeiros crentes.

Esses missionários inicialmente pregavam com ajuda de outro missionário interprete que chegava primeiro ao campo. Uma das orientações dada a Forsyth era que não falasse de coisas profundas da Bíblia e da doutrina, mas que falasse com simplicidade das coisas elementares do Evangelho. Muita gente não sabia ler e não seria capaz de entender certas verdades. Mas Forsyth aprendeu que mesmo analfabetos, mas sob a orientação do Espírito Santo “o profundo lhes era claro”. Eram capazes de assimilar verdades doutrinárias tanto quanto os crentes cultos. Muita gente simples confessou Jesus Cristo como Senhor e Salvador em muitos pontos de pregação, congregações e igrejas.

As perseguições eram variadas, algumas vezes quando chegava um grupo de crentes numa localidade e davam início ao evangelismo, os sinos das igrejas romanas começavam a tocar furiosamente, o povo corria para saber o que era, anunciavam: “Invasão da Nova Seita!”. Os padres atiçavam os fiéis a expulsar os crentes dos vilarejos. Com vivas a Virgem Maria e a Santa Madre Igreja Católica Romana. Os padres exigiam retirada imediata, mas os missionários resistiam alegando que o Brasil era uma pátria secularizada e que não havia igreja oficial e que a Constituição garantia liberdade de culto. Quando os padres não conseguiam expulsar na base do medo, desafiavam: “Quem lhe autorizou a pregar? Que bispo lhe impôs as mãos?”. O missionário respondia: “Homem algum me autorizou a pregar. Cristo Jesus mandou que os seus discípulos pregassem o Evangelho a toda criatura. O Senhor Jesus me autorizou a pregar!”. Isso debaixo de vivas a Maria e pedradas.


Fonte: Material datilografado por Forsyth (sem data.)


Continua...

4.5.10

Povo sertanejo -- Darcy Ribeiro







Essa série de episódios registra o povo sertanejo, vale a pena conhecer o olhar histórico e antropológico do povo nordestino. Como diz Suassuna: "Beleza grandiosa, terrível, não graciosa".